Guia rápido (e simplificado) da Previdência Privada
Esqueça se aposentar pelo INSS. Já não é novidade o que especialistas preveem há anos: a quebra da sustentabilidade financeira de um modelo que apresenta um descompasso crescente entre receitas e despesas. Preparar-se para a longevidade fazendo um bom planejamento de aposentadoria nunca se mostrou tão necessário, e não há como negar que a Previdência Privada desperta o interesse de todos que não querem depender da previdência pública ou almejam mais tranquilidade financeira no futuro.
Muito se alardeia sobre as várias vantagens da Previdência Privada para o investidor, mas é preciso tomar alguns cuidados para realmente escolher o melhor plano. Vamos lá?
Precisa mesmo?
A última pesquisa apresentada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Banco Central (BC), formalizou formalizou um dado preocupante, porém já percebido aos longos dos meus anos atuando como educadora financeira, que é a baixíssima adesão ao planejamento de aposentadoria. Apenas 4 em cada 10 brasileiros se preparam financeiramente, ainda que de forma ineficiente, para a aposentadoria. Mais da metade dos entrevistados, inclusive, não tem previsão alguma de quando poderia parar de trabalhar por necessidade e iniciar uma nova fase profissional onde o trabalho flexível e por prazer possa fazer parte da rotina.
Some-se a esse cenário a falta de educação financeira dos nossos jovens. Outro estudo importante conduzido pela Anbima e Datafolha mostra que 61% dos jovens de 16 a 24 anos desconhecem os produtos financeiros disponíveis no mercado. Essa é a maior faixa percentual dentre todas as faixas etárias entrevistadas.
Se estamos reunindo no mesmo cenário a “fome e a vontade de comer”, fica claro como é imprescindível colocar em pauta algumas opções de investimentos para aposentadoria.
O que é uma previdência privada?
Previdência Privada é uma modalidade de investimento que tem como objetivo principal o complemento da aposentadoria pública. Esse produto foi desenhado especialmente para ajudar o investidor no longo prazo: é possível simular, já ao pesquisar por um plano de previdência privada, os valores necessários de poupança mensal para obter a renda desejada na aposentadoria.
Os fundos de previdência precisam ser oferecidos por seguradoras, e, ao fim do período de contribuição, o investidor tem a opção de receber uma renda por toda a vida (ou por um período pré-determinado) ou sacar o dinheiro gradualmente.
Como, quanto, quando?
O começo de qualquer tipo de planejamento sempre envolve, em primeiro lugar, perguntas e respostas. Definir prazo para contribuição do plano de previdência privada, valores para os aportes, data desejada de resgate e objetivo principal ao escolher por esse produto (os mais conhecidos costumam ser o planejamento sucessório e o benefício tributário) são as primeiras perguntas do processo.
Em relação a quanto destinar da renda para esse produto, sugere-se idealmente, a partir de 10% para investimentos de longo prazo. Como a regra dos juros compostos sempre aponta para “quanto antes, melhor”, não há idade mínima para começar uma Previdência Privada, porém é preciso lembrar que esse não é um produto altamente indicado para quem precisará dos recursos aplicados em um horizonte menor do que 10 anos a partir do início do plano. Isso porque deve-se considerar a tributação do Imposto de Renda conforme demonstrado mais à frente.
Voltando aos aportes, separei uma simulação simplificada a seguir para comprovar que quanto antes o investidor começar seus aportes, mais vantagens ele terá.
Idade inicial | Aporte mensal | Valor acumulado* aos 65 anos | Renda mensal* dos 65 anos aos 100 anos |
20 anos | R$1.000,00 | R$1.500.000,00 | R$6.500,00 |
35 anos | R$1.000,00 | R$700.000,00 | R$3.000,00 |
50 anos | R$1.000,00 | R$250.000,00 | R$1.300,00 |
*valores aproximados, rentabilidade real (descontada da inflação) projetada de 4% aa.
PGBL ou VGBL?
Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) são os dois planos de previdência complementar que o investidor pode encontrar no mercado.
Basicamente, no PGBL o investidor é tributado levando em consideração o montante total investido.Além disso, este plano permite deduções na base de cálculo do Imposto de Renda de até 12% dos rendimentos tributáveis. Um pré-requisito para a contratação de um PGBL é a declaração no modelo completo do Imposto de Renda.
Já no VGBL, a incidência do imposto é sobre os rendimentos. Não há, nesse modelo, dedução de rendimentos tributáveis e o investidor pode declarar seu IR no modelo simplificado.
Falando em Imposto de Renda…
Existem atualmente dois modelos de tributação nos fundos de previdência privada: a tabela progressiva (também chamada de compensável) e a tabela regressiva (ou definitiva). Cada uma delas indica como será cobrado o Imposto de Renda (IR) na hora do resgate.
Na tabela progressiva, o resgate do dinheiro sofre incidência de uma alíquota de 15% na fonte e, o restante, na declaração anual do IR. Simplificando:
Tabela Progressiva
Base de cálculo | Alíquota (%) |
Até 22.847,76 |
– |
De 22.847,77 até 33.919,80 |
7,5% |
De 33.919,81 até 45.012,60 |
15% |
De 45.012,61 até 55.976,16 |
22,5% |
Acima de 55.979,16 |
27,5% |
Na tabela regressiva, a alíquota começa em 35% (valor máximo) e vai regredindo até chegar ao mínimo de 10%:
Tabela Regressiva
Base do cálculo | Alíquota (%) |
Até 2 anos |
35% |
2 a 4 anos |
30% |
4 a 6 anos |
25% |
6 a 8 anos |
20% |
8 a 10 anos |
15% |
Acima de 10 anos |
10% |
É preciso lembrar que o objetivo de uma previdência privada é o incentivo aos investimentos no longo prazo, uma vez que a alíquota diminui com o passar dos anos.
Alguns cuidados extras para escolher o melhor plano de previdência privada
Há custos envolvidos na contratação de qualquer um dos planos e o investidor precisa atentar a eles para não ter em mãos um produto “caro” que leva em suas taxas cobradas boa parte da rentabilidade.
- – Taxa de administração
- – Taxa de entrada
- – Taxa de saída
Nem toda instituição cobra as taxas de entrada e saída, portanto a regra sempre será pesquisar as opções disponíveis no mercado antes de assinar qualquer contrato.
Dá para pedir portabilidade, sim!
É um direito do investidor que já tem um plano de previdência privada, transferir o seu plano para outra instituição. A solicitação da portabilidade é gratuita, restando ao investidor apenas arcar com a taxa de saída do plano atual, se houver.
Apesar da portabilidade poder acontecer entre planos da mesma instituição financeira, ou para outra instituição, a transferência dos planos entre si tem limitações e só acontece dentro da mesma modalidade. Um plano PGBL só pode ser portado para outro PGBL; um VGBL só pode ser portado para outro VGBL.
Em relação à tributação, um plano que conte com a tabela progressiva pode ser portado para a tabela regressiva, porém o contrário não é permitido.
Previdência Privada não entra em inventário
Inventário é nome do documento que lista todos os bens que a pessoa falecida tinha em seu nome no momento de sua morte. Podem constar nesse documento desde imóveis e carros, até investimentos em fundos e poupança. Após o falecimento, os herdeiros podem solicitar o inventário, mas é importante frisar que, além desse processo levar um certo tempo para ser concluído, existem custos (honorários advocatícios, fórum ou cartório, e custos de transferência dos bens aos herdeiros, que varia de Estado para Estado).
Ao contratar um plano de previdência privada, o investidor nomeia um (ou mais) beneficiário(s), inclusive indicando a porcentagem devida para cada uma das pessoas indicadas no plano, que receberão os valores no caso de sua morte. Isso garante certa tranquilidade financeira dos herdeiros, que podem receber os valores do plano de previdência enquanto esperam a finalização do inventário.
Qualquer investimento de longo prazo pode ser usado para o planejamento de aposentadoria, mas uma boa previdência privada permite que o investidor conte com uma gestão profissional dos recursos (já que se trata de um fundo), usufrua dos benefícios fiscais e tributários, deixe seus dependentes financeiros mais tranquilos e não permita que o seu próprio futuro financeiro dependa somente do INSS.
É preciso lembrar de que fazer um planejamento financeiro antes de contratar um investimento – seja ele qual for, é essencial para uma escolha acertada. Se precisar de ajuda, entre em contato. Você acaba de ver que, quanto antes você começar a cuidar do seu futuro, melhor, certo?
Um beijo e vejo você no próximo conteúdo sobre finanças pessoais. Até mais!