Guia da Negociação de Dívidas
Faturas de cartões de crédito, carnês de lojas e parcelas do financiamento imobiliário e do automóvel. Essas são algumas das personagens presentes na rotina financeira da imensa maioria dos brasileiros, e eis que, sem aviso prévio, chega a pandemia, a quarentena, a crise. Empresas comunicam reduções de salário (é pegar ou largar) e para àqueles que dependem financeiramente de vendas (comissionados e empreendedores em geral), só lhes restou assistir por semanas à fio, pela janela, as ruas desertas.
O que fazer com os boletos, faturas e contas que continuam a chegar? É possível negociá-las ou será melhor cancelá-las? É preciso ter calma e analisar as opções antes de se desfazer do patrimônio em construção, ou mesmo, ter o nome incluído nos órgãos de restrição ao crédito por falta de pagamento.
Separei a seguir um pequeno guia para ajudar na negociação de contratos em andamento, estejam eles com pagamento em dia, ou não.
Negociação de Aluguel Residencial
O primeiro ponto é saber se o valor cobrado está adequado para a região, o bairro e as características do imóvel. Se a cobrança estiver mais alta do que a praticada no mercado, uma boa sugestão é levar para a reunião de negociação, pesquisas mostrando os valores dos aluguéis praticados na região e no mesmo condomínio.
Lembre o inquilino sobre o seu bom histórico de pagador e dos cuidados que tem com o imóvel – será que vale a pena para ele o risco de colocar uma pessoa descuidada no seu lugar? Sugerir realizar melhorias no imóvel e abater o valor da bem-feitoria do valor do aluguel também é uma boa prática. E por favor, não blefe alegando que, se não houver negociação, você sairá do imóvel. O momento pede cautela e uma mudança não planejada só atrapalharia ainda mais seu orçamento.
Negociação do Cartão de Crédito
Antes de pensar em negociação, é preciso entender o motivo da dívida no cartão de crédito.
Foram os gastos essenciais para a sua sobrevivência; os gastos referentes a um estilo de vida mais confortável, com certos “luxos” ou ainda, foram aqueles gastos impensados, fora de hora e realizados por impulso?
O momento é de encarar de frente esse detalhamento – é ele que ajudará você a nunca mais passar por esse tipo de situação. Após esse pente fino na fatura do cartão, saiba que o papo com o banco ou com a instituição financeira será sobre juros. Os juros do rotativo do cartão de crédito chegam facilmente à casa dos 300% ao ano – um dos mais altos do mundo. As opções para sair dessa cilada costumam ser:
- Parcelamento da fatura com juros menores do que o juros do rotativo (mas ainda bem altos);
- Pagamento à vista da dívida com recursos conseguidos através de empréstimos pessoais, crédito consignado, adiantamento do 13o salário e gratificações.
Você pode gostar das minhas dicas no UOL Economia sobre Cartão de Crédito!
Negociação do Cheque Especial
Esse crédito é liberado automaticamente sempre que se fica com a conta corrente negativa no banco. Não é necessário solicitar sua aprovação ao banco nem justificar os motivos pelos quais se está usando esse dinheiro, mas não se engane: essa facilidade tem um preço – os juros ficam entre 8% e 14% (você pode consultar a taxa do seu banco clicando aqui).
Além da taxa de juros, alguns bancos podem ainda cobrar um percentual sobre o uso do limite que exceda o valor de R$500,00. Os bancos costumam “dar” alguns dias de cheque especial sem a cobrança de taxas, mas cuidado: se não houver o pagamento, o correntista paga os juros referentes a todo o período em que usou o crédito. Para negociações, as opções costumam ser:
- Parcelamento do valor total da dívida debitado diretamente na conta corrente;
- Pagamento da dívida à vista com recursos conseguidos através de empréstimos pessoais, crédito consignado ou adiantamento do 13o salário e gratificações;
- Portabilidade da dívida, que significa a transferência dessa dívida para outra instituição financeira que ofereça juros menores. O processo é feito gratuitamente e o cliente tem a liberdade de escolher um novo banco.
Negociação do Financiamento Imobiliário
Como essa modalidade já apresenta taxas muito menores do que os financiamentos e empréstimos bancários, a melhor opção seria pedir portabilidade da dívida, mas verdades sejam ditas: as negociações de financiamento imobiliário não costumam ser um exemplo de simplicidade e facilidade.
O banco que está perdendo o cliente é avisado pelo banco concorrente e tem o direito de fazer uma contraproposta e além disso, a portabilidade é condicionada à aprovação de crédito e também à aceitação de risco pela seguradora, já que o seguro imobiliário composto pelas coberturas de morte e invalidez permanente e danos físicos ao imóvel também é portado.
É preciso estar preparado pois tudo isso pode levar algum tempo. Antes de assinar, compare o CET – Custo Efetivo Total, dos contratos, que corresponde ao valor total da negociação (engloba os JUROS + TAXAS + ENCARGOS + TRIBUTOS + SEGUROS).
Negociação do Financiamento de Automóveis
a prestação do carro que parecia “caber” no orçamento, está mais pesada do que parece? É possível, além da alternativa clássica de solicitar portabilidade da dívida, refinanciar o próprio bem (basicamente uma troca de contrato), vender o veículo transferindo a dívida para o novo proprietário (atente que a instituição financeira precisa aprovar o cadastro do comprador) ou vender o veículo com dívida, usando parte do bem para pagar o saldo devedor.
Negociação de Empréstimos Pessoais
Além da portabilidade de crédito ser uma opção, fazer um novo empréstimo, com juros mais baixos, também é uma alternativa a ser considerada. Um lembrete importante é o de comparar as propostas oferecidas por diferentes bancos ou instituições financeiras sempre sob as mesmas condições.
Negociação de Crédito Consignado
o empréstimo consignado é conhecido por ter o pagamento das parcelas descontadas direto do salário ou benefício. Assim, como o risco de inadimplência é menor, os bancos podem oferecer taxas de juros reduzidos. A melhor dica é procurar a sua agência ou contatar a empresa pelos canais de atendimentos oficiais. Em muitos casos, é possível fazer a solicitação de renegociação de forma totalmente online, além de realizar as simulações das novas condições de empréstimo.
Negociação de carnês de loja
É preciso entrar em contato pelo autoatendimento da loja ou ir até uma unidade física para explicar sua situação e procurar uma forma de negociar o valor que deve. Como cada empresa tem suas próprias regras, não há garantia alguma de que a negociação será aceita, mas como Educadora Financeira, digo que toda tentativa é válida. Normalmente as taxas de juros cobradas pelas lojas costumam ser altas – pode ser interessante uma boa pesquisa por outras linhas de crédito que possibilitem o pagamento dessa dívida à vista. Lembre de sempre pedir desconto – novamente, todas as alternativas devem ser consideradas.
Na internet, há sites que ajudam a renegociar dívidas. O Consumidor.gov.br, vinculado ao Ministério da Justiça, funciona como um intermediador entre quem deve e quem tem a receber. Se o banco ou a empresa para a qual você deve não estiverem cadastrados no site, peça a inclusão na própria plataforma. O Procon e o site Reclame Aqui são um bom caminho também para negociar.
Ao renegociar a dívida, tenha alguns pontos em mente
Conheça seus direitos:
Mesmo que você esteja devendo, seus direitos como consumidor estão preservados. Se você achar que existem cláusulas abusivas no seu contrato, procure ajuda no Procon ou com advogados especializados – disponíveis inclusive na defensoria pública.
Negocie conhecendo seus números:
Não adianta negociar e obter um novo parcelamento cujo valor continua fora da capacidade de pagamento, por isso, estabeleça um limite claro para a parcela mensal que você pode pagar.
Pesquise em diversas instituições:
Faça pesquisas em diversas instituições para ter certeza de que conseguiu as melhores condições do mercado. As ferramentas online para busca de crédito e simulação de financiamentos podem ser bastante úteis para ajudar nas comparações entre as instituições pesquisadas.
Aproveite ofertas especiais de renegociação:
Muitas instituições promovem eventos e períodos especiais do ano para que os clientes devedores possam negociar dívidas. Vale a pena ficar de olho nessas oportunidades e aproveitar as condições especiais oferecidas nessas ocasiões. O Serasa Consumidor tem se mostrado excelente com seus feirões Limpa Nome (que inclusive funciona em ambiente virtual) para conseguir um bom acordo e sair do vermelho.
Alguns cuidados extras
Vale mesmo a pena?
Perguntas que precisam ser respondidas antes de aceitar propostas de negociação:
– Diminuir em R$100 as parcelas mensais e demorar 6 meses a mais para pagar a dívida será mesmo uma boa ideia?
– O valor total do novo crédito é o suficiente para resolver o problema?
– Será necessário reduzir as despesas mensais? Em quanto?
Saiba o Custo Efetivo Total
Um cuidado extra em relação às análises comparativas entre as instituições que oferecem crédito: o Custo Efetivo Total (CET). Muitos devedores se prendem somente ao valor da taxa de juros cobrada e desconhecem o CET, uma informação obrigatória que precisa constar de forma clara em todo contrato e traz o que o próprio nome diz: o custo total da transação.
Cheque as letrinhas miúdas
Alguns contratos oferecem taxas mais baixas mas pedem um bem em garantia. Você está realmente disposto a colocar seu patrimônio na negociação? Os problemas por deixar de ler os asteriscos ou as notas de rodapé são inúmeros. Não deixe de entender seus riscos.
Pesquise a reputação da instituição
Redes sociais, Reclame Aqui e Procon são alguns dos caminhos para você descobrir se a empresa atende seus clientes com o respeito que se propõe a ter.
Negociar contratos (com pagamento em dia ou não) pode ser sempre uma boa solução mas gostaria que você se atentasse à duas palavras importantíssimas para qualquer momento da sua vida financeira: “organização” e planejamento”. São elas os alicerces de uma boa vida financeira e considere-as como as chaves que ajudarão tudo isso a passar mais rápido.
Um beijo e vejo você no próximo conteúdo sobre Finanças Pessoais. Até mais!