Dicas práticas para negociar o aluguel
Recentemente participei de uma matéria para o E-investidor, do Estadão, sobre negociação de aluguel. Veja a seguir os pontos mais relevantes dessa entrevista:
E-Investidor: Qual o primeiro passo a dar numa lista de ações para quem vai negociar o aluguel atrasado?
Carol Stange: A pesquisa deve ser o primeiro passo. Já pensou se o inquilino vai até o dono do imóvel com o objetivo de conseguir abatimentos e descobre somente no momento da reunião que o valor que paga na verdade, deve ser reajustado de acordo com o que o mercado está praticando?
Antes de marcar esse encontro com o proprietário, o inquilino deve saber se o imóvel alugado tem seu valor cobrado de acordo com a cidade e bairro, e ainda, se é um valor semelhante a outros imóveis com as mesmas características dentro do próprio condomínio.
Essa pesquisa pode ser feita através dos sites de busca de imóveis ou mesmo com a ajuda de um corretor ou imobiliária.
E-Investidor: Dando continuidade, quais os demais passos você sugere na negociação desse tipo de dívida?
Carol Stange: Após a pesquisa, há alguns caminhos: se o aluguel estiver acima do praticado no mercado, o inquilino tem um forte embasamento para pedir abatimento, caso contrário, pode seguir com algumas sugestões:
#1: Lembre o proprietário do imóvel sobre o seu bom histórico de pagador e dos cuidados que sempre teve com o imóvel – será que vale a pena para ele correr o risco de colocar uma pessoa descuidada (ou que apresente dificuldades maiores do que as suas, no pagamento do aluguel) no seu lugar?
#2: O inquilino pode sugerir realizar melhorias no imóvel e abater o valor das bem-feitorias do valor do aluguel mensalmente ou por um período específico.
#3: Se o pagamento está em dia mas há dificuldades em honrá-lo, o inquilino pode tentar congelamento de algumas parcelas e, após o prazo combinado, diluir esse valor nas parcelas restantes do contrato, ou ainda, jogá-las para depois do término do contrato. Essa negociação pode ser usada também para parcelas que já estão com o pagamento em aberto.
#4: Negociações que consideram o abatimento temporário de uma porcentagem do aluguel têm sido frequentes. Alguns inquilinos já estão pagando seus aluguéis, desde abril/20, com descontos de 30%, 40% ou até 50%. Boa parte das negociações considera os descontos válidos até dezembro desse ano.
#5: E por fim, sugiro fortemente que o inquilino não blefe alegando que, se não houver negociação, ele sairá do imóvel. O momento pede cautela e uma mudança não planejada só atrapalharia ainda mais seu orçamento.
E-Investidor: Por conta da crise, o que muda na negociação? O que as pessoas devem ter em mente que não precisariam em tempos “normais”?
Carol Stange: Vejo um facilitador nas possíveis negociações de contratos atualmente que é ser de conhecimento geral a crise e seus motivos. Estamos todos enfrentando mudanças no orçamento doméstico. Além disso, há cenários que projetam uma crise mais acentuada nos próximos meses. Se há um bom histórico do inquilino, o proprietário do imóvel deve considera-lo para negociações.
E-Investidor: Nos casos mais complicados, por exemplo, com mais de uma parcela em atraso, vale à pena buscar um crédito para isso? Qual seria o mais recomendável?
Carol Stange: Acredito que negociações que levem o relacionamento inquilino x proprietário em consideração sejam mais vantajosas para ambos os lados.
Se já há, por parte do inquilino, dificuldades em pagar o aluguel (historicamente uma das dívidas mais priorizadas pelos brasileiros), entendo que todos os outros compromissos financeiros domésticos já estejam bem comprometidos.
Um empréstimo talvez seja capaz de resolver a situação de forma muito pontual, não dando fôlego para os meses que vêm pela frente, ao contrário de uma boa negociação, que pode garantir um respiro para que inquilino recupere sua capacidade de pagamento com foco e um pouco mais tranquilidade.