Cuidados na Hora de Emprestar Dinheiro (e como dizer “não” sem abalar a amizade!)
Recentemente participei de uma reportagem no Correio da Bahia sobre os “Como os empréstimos não pagos põe fim a amizades”.
Segundo uma pesquisa feita recentemente em todas as capitais do país pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), a amizade fica abalada em 51% dos casos em que houve falta de pagamento, e o cartão de crédito é o meio de pagamento mais solicitado (74%) por quem pede o nome emprestado para fazer compras:
Descubra a seguir os principais cuidados que é preciso ter na hora de considerar emprestar dinheiro para um amigo querido ou familiar e ainda, como dizer não (com jeitinho).
1) Correio da Bahia: Segundo uma pesquisa recente divulgada pelo SPC, em mais da metade dos casos, amigos que emprestam o nome acabam ficando com a relação abalada por conta da falta de pagamento da dívida. O Cartão de crédito, inclusive, é a modalidade preferida. Por que é tão difícil dizer não a um amigo?
Carol Stange: Ficamos muito vulneráveis a um pedido de ajuda financeira de um amigo ou ente querido. Nos deixamos levar pelo desejo de ajudar, acreditamos que tudo o que esse amigo precisa se resume a dinheiro e ainda, nos sentimos culpados ao não ajudar e, de certa forma, constrangidos em dizer não.
É essa mistura de sentimentos complexos que prova que decidir sobre o destino do dinheiro envolve muito mais emoção do que possa parecer.
O segundo ponto é que o cartão de crédito é a ferramenta mais fácil que há. É só tirá-lo do bolso! Mas é preciso entender que, ao emprestá-lo, é o seu nome que está em jogo e, se não houver pagamento, é você quem sofrerá para pagar os juros altíssimos (na casa dos 300% ao ano) e terá seu limite comprometido para seus próprios compromissos financeiros. E esses são os efeitos “visíveis”. Há ainda o risco de ter seu score de crédito rebaixado por falta ou atrasos no pagamento do cartão. Isso impacta diretamente no seu acesso a financiamentos, por exemplo.
Emprestar o cartão de crédito é pior do que emprestar dinheiro, já que você vai precisar arcar, em caso de atraso ou não pagamento, com dívidas que não são suas.
2) Correio da Bahia: Qual o impacto que esta dívida pode ter no orçamento de quem emprestou o nome?
Carol Stange: Os efeitos podem ser desastrosos. Quem emprestou o dinheiro conta com a devolução dele, afinal, não se trata de uma doação. A partir do momento em que a dívida não é paga, a saúde financeira de quem emprestou o dinheiro pode estar em risco.
Um ponto importante que passa despercebido nos casos de pedidos de empréstimos, é que não mais do que 30% da sua receita deve estar comprometida com dívidas parceladas, e inclui-se aí, empréstimos para os amigos. Se a soma total das suas dívidas e parcelamentos for maior do que 30% da receita total, é grande o risco de aparecer a inadimplência caso o amigo não pague o empréstimo religiosamente no prazo estabelecido.
É preciso saber calcular os riscos antes de tomar qualquer decisão e olhar para seus próprios números antes de qualquer atitude.
3) Correio da Bahia: O que é preciso avaliar e levar em consideração antes de emprestar um nome para um amigo?
Carol Stange: A capacidade de pagamento do amigo deve ser considerada. Se estamos falando de alguém que sofre de desorganização financeira “crônica”, não é um empréstimo que resolverá o problema, afinal estamos falando de uma dificuldade recorrente.
Se esse amigo não tem um cartão, pode ser porque não conseguiu aprovação de crédito em nenhuma instituição financeira, ou seja, não possuir um histórico financeiro bom suficientemente ou ainda, pode ser que ele esteja com o nome sujo na praça.
Outro ponto a ser observado é a finalidade do empréstimo: é para o pagamento de dívidas, é para socorrer durante uma emergência médica ou é para ser usado como capital para um projeto de empreendedorismo? Nesse último caso, você tem todo o direito de pedir informações detalhadas do projeto.
Não necessariamente esses sinais indicam que seu amigo será uma mau pagador com você, mas são, sem dúvida, sinais de alerta.
Simule possíveis desdobramentos futuros que a sua vida financeira sofreria ao emprestar o dinheiro e tenha consciência de que, se negar um pedido já é uma tarefa árdua, cobrar uma dívida é ainda mais difícil.
4) Correio da Bahia: Na sua opinião, por que o dinheiro é capaz de interferir tanto nas relações afetivas? Qual o principal ponto de tensão?
Carol Stange: Dizer “não” aos familiares e amigos queridos é um desafio. Quando falamos de dinheiro, as decisões são, ao contrário do que se imagina, muito mais emocionais do que matemáticas.
Um dos principais pontos criadores de tensão é a falta de regras escritas. Não costuma existir um contrato com regras claras quando há empréstimo de dinheiro para amigos. E todos sabemos que o verbal pode acabar sendo distorcido, esquecido ou ignorado.
Um simples contrato de gaveta e uma testemunha imparcial (um advogado, por exemplo), podem ser grandes aliados nesse tipo de situação. Não digo que isso vá resolver eventuais problemas na falta de pagamento da dívida, mas ajudará a diminuir os ruídos de comunicação e possíveis problemas legais. Deixar tudo por escrito também exerce um efeito moral de compromisso com o pagamento do empréstimo. Datas e valores devem constar nesse documento.
5) Correio da Bahia: Como ajudar, sem se endividar? Qual o segredo para saber dizer não, sem perder a amizade?
Carol Stange: Sugiro sempre uma conversa franca. Seu dinheiro tem um objetivo, tem um propósito e geralmente, mexer nele impactará a vida de outras pessoas também, como é o caso quando falamos das finanças de uma família.
Uma opção que pode dar um bom resultado, é você transmitir o conhecimento que tem sobre organização e disciplina financeira ao amigo, afinal, se você tem algum capital para empréstimo, isso mostra que você é, de alguma forma, bom com as finanças.
Mostre o que você faz e como você faz para ter seu dinheiro sobre controle. Essa é uma grande dificuldade das pessoas em geral: todos sabem que é preciso economizar, poupar e investir. Mas as pessoas não sabem, efetivamente, como fazer.
Se você acha que não conseguirá ensinar ou mesmo que o processo é mais complexo do que o seu conhecimento sobre finanças, educadores e planejadores financeiros podem ajudar de forma mais profissional, usando inclusive de técnicas de aprendizado e estratégias específicas.
6) Correio da Bahia: Amizade abalada, orçamento no vermelho. O que fazer para reverter?
Carol Stange: Obviamente, preferimos acreditar que se o amigo não nos pagou, não foi por má fé, mas por dificuldades reais em fazê-lo.
Mas, se o estrago já aconteceu, agora é pensar em um plano de ação factível para que pelo menos parte da dívida seja paga. O que vemos na prática é que esse empréstimo acaba sendo pago ao longo dos anos do jeito que dá, no valores que são possíveis. Sem dúvida, toda essa situação causa um desgaste imenso na amizade, sem falar nos sentimentos de raiva e arrependimento.
Se você entrou no vermelho porque emprestou dinheiro e não vê sinais de pagamento da dívida, talvez tenha que procurar opções de crédito no mercado. Elas podem valer a pena para sair dos juros altos do cartão de crédito. É quando trocamos uma dívida muito ruim por outra um pouco menos pior. Sem dúvida, dará trabalho e não deixa de ser um aprendizado para todos os envolvidos.
7) Correio da Bahia: Qual o melhor caminho para resolver o impasse ao ‘levar um calote’ do amigo?
Carol Stange: Tomados os cuidados acima de, por exemplo, fazer um contrato, pode servir de base para uma futura cobrança judicial. Caso opte por não envolver meios legais, não vejo muita saída a não ser assumir a perda. Continuar ou não a amizade trata-se de uma decisão muito particular, que envolve um histórico de experiência, vivências compartilhadas, afinidades.
8) Correio da Bahia: Peço que desenvolva cinco dicas para não se endividar por conta de um amigo (por mais querido que ele seja):
Carol Stange:
1 – Analise os motivos do pedido de empréstimo e os riscos ao emprestar o cartão de crédito. Se o devedor não pagar em dia, é o seu nome e sua saúde financeira que estão em jogo.
2 – Se permita dizer não se você não nota no amigo a real capacidade de pagamento da dívida.
3 – Avalie o motivo do pedido de empréstimo. Se você perceber que o pedido é para iniciar uma empreitada furada, para pagamento de outras dívidas ou reflexo de desorganização financeira sem sinais de resolução, avalie. Isso é falta de educação financeira e empréstimos resolverão pontualmente.
4 – Se você conseguiu poupar ao longo do tempo, isso significa que você abriu mão de consumir de forma imediata, passou algumas vontades, priorizou gastos e investiu de forma estratégica. É justo com você que seu plano financeiro e bem-estar emocional sejam abalados?
5 – Decidiu por emprestar dinheiro ao amigo? Cobrar juros com objetivo de ganhar uma rentabilidade em cima desse empréstimo talvez desvirtue a natureza da operação, afinal estamos falando de ajudar uma pessoa querida e não de ganhar dinheiro com isso, mas sugiro cobrar pelo menos a correção pela inflação, afim de não ter seu poder de compra comprometido ao receber o pagamento.
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Um beijo e vejo você no próximo conteúdo sobre finanças pessoais! Até mais!